
Achava incrível a forma como os sonhos conseguiam invadir todo o seu espaço tomando tudo o que era seu.
Sentia-se…Não sabia. Tinha sono. E frio, apesar do sol que já se começava a fazer lá fora.
Encheu o copo com leite e foi bebê-lo para a soleira da porta.
Mais uma vez, veio-lhe à cabeça aquele sonho. Abriu a gaveta, tirou uma camisola do dobro do seu tamanho e vestiu-a enquanto observava um gato cinzento do outro lado da rua.
Dirigiu-se à porta… mas não saiu.
Sentou-se no chão, encostado a uma velha arca frigorífica. Ao seu lado, um balde de água mostrava o seu reflexo. Durante vinte minutos, pensou em como as suas sardas estavam mais sobressaídas que nunca. Zangou-se por isso.
Deu por si a pensar em que época chegariam as cerejas, quantas pessoas no mundo estariam a tomar banho naquele momento, e porque raio a sua avó insistia em continuar a roer as cartilagens do porco mesmo depois de já toda a gente ter acabado a sobremesa.
Haviam-se passado quatro horas, quando decidiu chegar-se ligeiramente para o lado. E mais quatro horas assim ficou.
Levantou-se, saiu, e deu uma volta de cinco minutos pela aldeia.
Ao passar pelo jardim principal, alguém lhe falou.
Acenou… e sorriu.
À noite, encheu o copo com leite e foi bebê-lo para a soleira da porta.
Sorria… E nada se passara, nada se passava.
Mas às vezes uma palavra bastava.
Ilustração de Bruno Clemente e texto de Leonor Figueiredo