quinta-feira, 11 de dezembro de 2008















Como um lampejo.

Aquela bola de fogo
dominava sob o céu.

Num mar de chamas vivas

Rapidamente desceu
para as profundezas da terra.

A noite engoliu-a


Era minha

Era tua

...

Mas não se perdeu.






Fotografia de Leonor Figueiredo, Texto de Bruno Clemente

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008




Apanha
do chão
Deita
no bolso


Esta é a primeira parte de uma história




que não tem segunda parte.

Falo apenas de um coleccionador de clipes.












Ilustração de Bruno Clemente e texto de Leonor Figueiredo

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Tempus




O tempo passa, transforma as coisas…
Num silêncio admiravelmente dominador,
Que só a elas pertence.

Molda novas formas, destrói umas,
Cria outras…

Com a mesma célere lentidão de sempre.

O Tempo.

Em si, nada é, nada contém, é vazio…

Desprovido de História ou Sentimento

É Nada


No entanto.
Ela é contentor do Tempo,
Criadora Dele…

Da mesma forma que a ferrugem se apodera teimosamente das suas entranhas,
Tal como o sol a si mesmo se consome.
Ela é o Tempo e o tempo é Ela,
fundem-se.


São o mesmo..



O Tempo.

O Universo…

..ao mesmo tempo...

(É-o.)








Fotografia de Leonor Figueiredo e Texto de Bruno Clemente


quinta-feira, 20 de novembro de 2008



Foi então que a noite cobriu tudo de um manto inconfundivelmente brilhante, enquanto o som do farol começava a ecoar por aquele longo areal repleto de conchas, rochedos e recordações.










Ilustração de Bruno Clemente e texto de Leonor Figueiredo

quinta-feira, 13 de novembro de 2008


Naquele dia, deixou-se encher de todas as forças, levantou-se da cama, saiu à rua e subiu toda a colina como se tivesse de novo oito anos. Parado à beira da árvore, lembrou-se de como toda a sua essência se resumia àquele local, de como ali havia conhecido a amizade em toda a sua plenitude. Divagou, deixou-se levar, lembrou-se do papagaio de papel e das duas almas pequeninas com sorrisos de gigante correndo por aquele chão, pisando aquela terra como se todo o céu fosse deles. Lembrou-se da inocência de criança, de como aquela árvore era suficientemente pequena para lhe treparem aos galhos, dos rebuçados, dos sermões infindáveis na chegada a casa, dos casamentos a fingir e dos lanchinhos partilhados.
Quarenta anos passaram, e uma carta chegou à sua já ferrugenta caixa de correio. A amizade era a mesma, o sorriso que se esboçou foi o mesmo. Chorou. Não por saudades, não de tristeza, mas por não saber o que sentir.
Mais quarenta anos passaram... e outra carta chegou.
Esta não trazia consigo a caligrafia dela, nem sequer a sua amizade. Com oitenta e oito anos, ela não ia voltar mais para lhe dar o abraço e o beijinho à esquimó, não ia voltar a sentir a alegria do seu sorriso. Não chorou.
Naquele dia, deixou-se encher de todas as forças, levantou-se da cama, saiu à rua e subiu toda a colina como se tivesse de novo oito anos. Parado à beira da árvore, lembrou-se de como toda a sua essência se resumia àquele local, de como ali havia conhecido a amizade em toda a sua plenitude.

Naquele dia, era só ele, ela e a árvore.
















Ilustração de Bruno Clemente e texto de Leonor Figueiredo

quinta-feira, 6 de novembro de 2008




Sombras que moldam texturas,
lugares que permanecem eternos na memória,

Ruína.

Depois pó.
Pó que é memória,
de tubagens e alpendres desengonçados,
tinta descascada, vidros partidos.
Mas é nossa.
Tal como do gato, que a percorre livremente,
E faz também parte dela.
Vive-a.

Ama-a.

A memória apenas permanece
naqueles que não se ficam pela aparência rude da pedra mal aparelhada,
e são felizes.

Os outros,
passam... vão passando...

E nada vivem.

Nada sentem.










Fotografia de Leonor Figueiredo e texto de Bruno Clemente

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Às vezes uma palavra bastava


Achava incrível a forma como os sonhos conseguiam invadir todo o seu espaço tomando tudo o que era seu.
Sentia-se…Não sabia. Tinha sono. E frio, apesar do sol que já se começava a fazer lá fora.
Encheu o copo com leite e foi bebê-lo para a soleira da porta.
Mais uma vez, veio-lhe à cabeça aquele sonho. Abriu a gaveta, tirou uma camisola do dobro do seu tamanho e vestiu-a enquanto observava um gato cinzento do outro lado da rua.
Dirigiu-se à porta… mas não saiu.
Sentou-se no chão, encostado a uma velha arca frigorífica. Ao seu lado, um balde de água mostrava o seu reflexo. Durante vinte minutos, pensou em como as suas sardas estavam mais sobressaídas que nunca. Zangou-se por isso.
Deu por si a pensar em que época chegariam as cerejas, quantas pessoas no mundo estariam a tomar banho naquele momento, e porque raio a sua avó insistia em continuar a roer as cartilagens do porco mesmo depois de já toda a gente ter acabado a sobremesa.
Haviam-se passado quatro horas, quando decidiu chegar-se ligeiramente para o lado. E mais quatro horas assim ficou.
Levantou-se, saiu, e deu uma volta de cinco minutos pela aldeia.
Ao passar pelo jardim principal, alguém lhe falou.
Acenou… e sorriu.
À noite, encheu o copo com leite e foi bebê-lo para a soleira da porta.
Sorria… E nada se passara, nada se passava.
Mas às vezes uma palavra bastava.









Ilustração de Bruno Clemente e texto de Leonor Figueiredo

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sonho






Ilustração de Bruno Clemente e texto de Leonor Figueiredo

quinta-feira, 16 de outubro de 2008





Velhas árvores retêm no seu tronco cicatrizes de quem por lá passou e nelas não reparou.
No entanto, por lá permanecem, como guardiãs do lugar sagrado, imortais.
Preservando na memoria os que a olharam, e que um dia a elas se juntaram,


alimentando-as.



Fotografia de Leonor Figueiredo e texto de Bruno Clemente

quinta-feira, 9 de outubro de 2008



Mas a alegria de ver felicidade naqueles momentos suporta a tristeza de não terem passado de um sonho.
Vidros sujos, uma maçã, e a impaciencia...

Quando ja ninguém sabe o que é perder-se dentro de outrém...












Ilustração de Bruno Clemente e texto de Leonor Figueiredo