quinta-feira, 13 de novembro de 2008


Naquele dia, deixou-se encher de todas as forças, levantou-se da cama, saiu à rua e subiu toda a colina como se tivesse de novo oito anos. Parado à beira da árvore, lembrou-se de como toda a sua essência se resumia àquele local, de como ali havia conhecido a amizade em toda a sua plenitude. Divagou, deixou-se levar, lembrou-se do papagaio de papel e das duas almas pequeninas com sorrisos de gigante correndo por aquele chão, pisando aquela terra como se todo o céu fosse deles. Lembrou-se da inocência de criança, de como aquela árvore era suficientemente pequena para lhe treparem aos galhos, dos rebuçados, dos sermões infindáveis na chegada a casa, dos casamentos a fingir e dos lanchinhos partilhados.
Quarenta anos passaram, e uma carta chegou à sua já ferrugenta caixa de correio. A amizade era a mesma, o sorriso que se esboçou foi o mesmo. Chorou. Não por saudades, não de tristeza, mas por não saber o que sentir.
Mais quarenta anos passaram... e outra carta chegou.
Esta não trazia consigo a caligrafia dela, nem sequer a sua amizade. Com oitenta e oito anos, ela não ia voltar mais para lhe dar o abraço e o beijinho à esquimó, não ia voltar a sentir a alegria do seu sorriso. Não chorou.
Naquele dia, deixou-se encher de todas as forças, levantou-se da cama, saiu à rua e subiu toda a colina como se tivesse de novo oito anos. Parado à beira da árvore, lembrou-se de como toda a sua essência se resumia àquele local, de como ali havia conhecido a amizade em toda a sua plenitude.

Naquele dia, era só ele, ela e a árvore.
















Ilustração de Bruno Clemente e texto de Leonor Figueiredo

9 comentários:

leb disse...

Bless... é a palavra de verificação...

God bless your future!!!

Long future... 88 anos!!!

Acredito ser possível não esquecer e manter as amizades :)
**

Amarie disse...

Vocês têm um dom...

Estou sem palavras.

bjo*

Anónimo disse...

Que maravilha, vocês têm um dom, e dos grandes.
Na minha modesta opinião ( de alguem mais perto desses oitenta e oito anos, ainda faltarão alguns certamente) este é pessoalmente, o melhor trabalho que vocês fizeram até então.

Até porque me diz muito, e me revejo aqui, e a forma como tudo é encaminhado, de forma tão simples e clara.

Talvez seja isso que o torna tao caracteristico, tão pessoal.

Parabéns aos dois.

Bruno, dominas a ponta do lápis de uma forma muito rara, são trabalhos exceptcionais.

Leonor, escreves de uma forma diferente, 'babo-me' em cada texto teu, as tuas palavras penetram bem fundo.

obrigado aos dois,

e continuem com esta mesma força.

Anónimo disse...

Estou a ver que continuaram, e bem por sinal.

parabéns, excelentes documentos sem duvida.

Continuem

Anónimo disse...

bastante interessante.







J.P

Anónimo disse...

E mais um xP

Gostei muito =)

continuem^^

Anónimo disse...

este está lindooooo!


continuem

Bruno Clemente disse...

Obrigado a todos pelos comentários e pela força que têm dado.

continuaremos com a mesma força :)
sempre.

Anónimo disse...

ha amizades que duram mais do que uma vida.

o importante é eternizá-las.

uma simples caneta usada por alguem próximo, é algo imortal, dentro da nossa existência metafisica.

bom blog.

bruno quero ver aqui aquela tela que vi no teu quarto pá, é de longe a tua melhor 'cena'.

abraço aos dois