
Naquele dia, deixou-se encher de todas as forças, levantou-se da cama, saiu à rua e subiu toda a colina como se tivesse de novo oito anos. Parado à beira da árvore, lembrou-se de como toda a sua essência se resumia àquele local, de como ali havia conhecido a amizade em toda a sua plenitude. Divagou, deixou-se levar, lembrou-se do papagaio de papel e das duas almas pequeninas com sorrisos de gigante correndo por aquele chão, pisando aquela terra como se todo o céu fosse deles. Lembrou-se da inocência de criança, de como aquela árvore era suficientemente pequena para lhe treparem aos galhos, dos rebuçados, dos sermões infindáveis na chegada a casa, dos casamentos a fingir e dos lanchinhos partilhados.
Quarenta anos passaram, e uma carta chegou à sua já ferrugenta caixa de correio. A amizade era a mesma, o sorriso que se esboçou foi o mesmo. Chorou. Não por saudades, não de tristeza, mas por não saber o que sentir.
Mais quarenta anos passaram... e outra carta chegou.
Esta não trazia consigo a caligrafia dela, nem sequer a sua amizade. Com oitenta e oito anos, ela não ia voltar mais para lhe dar o abraço e o beijinho à esquimó, não ia voltar a sentir a alegria do seu sorriso. Não chorou.
Naquele dia, deixou-se encher de todas as forças, levantou-se da cama, saiu à rua e subiu toda a colina como se tivesse de novo oito anos. Parado à beira da árvore, lembrou-se de como toda a sua essência se resumia àquele local, de como ali havia conhecido a amizade em toda a sua plenitude.
Naquele dia, era só ele, ela e a árvore.
Ilustração de Bruno Clemente e texto de Leonor Figueiredo
9 comentários:
Bless... é a palavra de verificação...
God bless your future!!!
Long future... 88 anos!!!
Acredito ser possível não esquecer e manter as amizades :)
**
Vocês têm um dom...
Estou sem palavras.
bjo*
Que maravilha, vocês têm um dom, e dos grandes.
Na minha modesta opinião ( de alguem mais perto desses oitenta e oito anos, ainda faltarão alguns certamente) este é pessoalmente, o melhor trabalho que vocês fizeram até então.
Até porque me diz muito, e me revejo aqui, e a forma como tudo é encaminhado, de forma tão simples e clara.
Talvez seja isso que o torna tao caracteristico, tão pessoal.
Parabéns aos dois.
Bruno, dominas a ponta do lápis de uma forma muito rara, são trabalhos exceptcionais.
Leonor, escreves de uma forma diferente, 'babo-me' em cada texto teu, as tuas palavras penetram bem fundo.
obrigado aos dois,
e continuem com esta mesma força.
Estou a ver que continuaram, e bem por sinal.
parabéns, excelentes documentos sem duvida.
Continuem
bastante interessante.
J.P
E mais um xP
Gostei muito =)
continuem^^
este está lindooooo!
continuem
Obrigado a todos pelos comentários e pela força que têm dado.
continuaremos com a mesma força :)
sempre.
ha amizades que duram mais do que uma vida.
o importante é eternizá-las.
uma simples caneta usada por alguem próximo, é algo imortal, dentro da nossa existência metafisica.
bom blog.
bruno quero ver aqui aquela tela que vi no teu quarto pá, é de longe a tua melhor 'cena'.
abraço aos dois
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