segunda-feira, 24 de maio de 2010

E a dor de sonhar



A minha existência faz-se de sonhos,
Pedaços de tempo em que a minha vida é outra
E em que tudo em mim são delírios.
Antigamente, quando acordava
tudo à minha volta resvalava pelo tédio mais esgotante,
a realidade mais entediante,
a vida mais real.
Até que descobri que a vida também podia saber a sonho
sem ter de me empurrar para o outro lado,
o da irrealidade na realidade.
Mas esse sabor não era suficiente,
Eu tinha de o sentir na pele,
Tinha de sentir o seu cheiro genuíno,
E não uma imitação rasca de vida disfarçada.
Entrar nessa existência paralela,
largar tudo e agarrar outro tanto,
viver o sonho como se nada para além disso existisse.
E no meio de febres, de delírios,
de imagens, de cheiros,
de fantasia,
de toque…
… de felicidades fugazes…
eu esqueci-me.
Esqueci-me da vida,
Do que havia do lado de fora da caixa,
esqueci-me do que me chamava desesperadamente.
É que essa parede era de vidro,
Transparente, translúcida,
E eu tornei-a de ferro.
E agora,
Em vez de sair de sonhos para entrar na realidade,
Saio de sonhos para entrar em pesadelos.






Ilustração de Bruno Clemente e texto de Leonor Figueiredo

3 comentários:

Rodrigo Rivera disse...

A realidade é o sonho que tu constróis.. e n é facil :|

gust disse...

nunca te tinha visto a fazer poemas...

Leonor Figueiredo disse...

A vida às vezes leva-nos por caminhos desconhecidos e imprevisíveis

Espero que, ainda assim, tenhas gostado.